quinta-feira, 20 de maio de 2010

Psicóloga Homossesualidade no Reino animal

EU TENHO UM SONHO! Assim se definia um dos maiores ícones do cristianismo do nosso século. Alguém que por acreditar em sonhos confrontava a realidade e buscava provocar mudanças no mundo em que vivia. Ter sonhos é um desafio para a igreja dos nossos dias. A história humana, inclusive a do cristianismo, sempre em todos os tempos e lugares foi e é marcada por homens e mulheres que um dia tiveram fé e por isso sonharam. Nesta noite queremos falar sobre sonhos e fé. Fazemos questão de enfatizar que o significado que utilizaremos diz respeito a sonhos como sendo ideais, aspirações. E aqui vale uma distinção bem peculiar dessa reflexão: quando usamos o termo ideais nós o empregamos não como um conjunto de idéias abstratas mas como sendo um conjunto de esforços empreendidos em prol da realização de uma idéia. Nesse sentido, as ilusões podem até nutrir o sonho como aspiração mas este não está baseado essencialmente nela. Assim, procuraremos refletir sobre os maiores sonhos da humanidade e pensar também nos nossos sonhos hoje como Igreja Presbiteriana Independente do Brasil, nesta ocasião em que estamos comemorando o nosso primeiro centenário. Porque é necessário sonhar? Porque o sonho possibilita ao homem a compreensão da revelação divina no desenvolvimento da história humana, desenvolvimento este que se apresenta sob três apectos: 1. Porque o sonho se apresenta como uma tentativa de superação do não realizado. Disso podemos considerar que a vida do homem sempre foi e será construída em torno das suas necessidades e expectativas. Reconhecer que o sonho é a tentativa de superar o não realizado é sentir-se desafiado a ir além dos limites preestabelecidos e assim admitir a novidade da vida cristã, uma vida na qual Deus age e se revela de maneira dinâmica na nossa história. Pois se o próprio Deus criou o homem e lhe deu direito de cuidar da terra isto mostra que o ser humano não foi criado para a ociosidade. Alguns vêm o trabalho como conseqüência do pecado. No entanto esta é uma leitura errada a respeito da criação divina e do nosso relacionamento com Deus, o trabalho é também um ato de fé que possibilita a realização de um sonho. O trabalho ou obras servem para demonstrar a fé. De acordo com o Evangelho segundo Marcos Jesus claramente afirmou aos fariseus: “O meu pai trabalha até agora e eu trabalho também”, ou seja, Deus continua realizando. Ele não está estagnado no ócio. Nós, como igreja do Senhor Jesus, somos também chamados a continuar realizando a missão para a qual Deus nos designou. Assim, com Deus nos sentimos parceiros na realização do seu ideal de implantação do seu reino sobre a terra. Nesse intuito cabe-nos a tarefa da evangelização e do testemunho cristão, vivido de tal forma que os homens vejam as nossas luzes e glorifiquem ao Nosso Pai que está nos Céus. Quando olhamos para a história ela nos mostra exemplos de como homens e mulheres um dia por acreditarem em sus sonhos possibilitaram a realização destes. No livro de Gênesis conhecemos a célebre história de Abraão, que próximo aos cem anos, ao receber de Deus a promessa de tornar-se pai de uma grande descendência, abandona a sua casa e sai em busca da terra que Deus prometera dar a ele e a uma descendência que Abraão ainda nem sequer ainda tinha. Podemos ainda falar sobre tantos outros personagens bíblicos, da chamada história secular e da história do cristianismo. Pensando nisso, poderíamos criar um texto semelhante ao texto que se encontra na carta aos Hebreus, no qual se faz uma apologia aos atos heróicos de personagens que agiram segundo a fé. Texto tão carinhosamente chamado de “a galeria dos heróis da fé” . Poderíamos nos apropriar desse estilo literário e nessa apologia criarmos a “galeria dos heróis dos sonhos”. Citaríamos ainda personagens do Idade Medieval, da Idade Moderna e ainda da Idade Pós-moderna. No contexto da América citaríamos os puritanos que por sua vez sonhavam construírem nos Estados Unidos uma nação, construída nos moldes do paraíso e da Nova Jerusalém. Da Alemanha, citaríamos o grande sociólogo Karl Marx, defensor da igualdade vivida de forma prática nas relações de trabalho e produção e a abolição da propriedade privada. Vindos da França, incluiríamos o povo que foi verdadeiras vozes que se levantaram em prol da “Declaração Universal dos Direitos do Cidadão”. Do Brasil citaríamos o grande missionário Ashbel Green Simonthon, um homem de convicções fortes e projetos definidos, cujo empreendedorismo merece ser destacado nos seu trabalho de evangelização do Brasil. Este tendo desembarcado no Brasil em 12 de agosto de 1859, em 1962 já organizava a Primeira Igreja Presbiteriana do Brasil fundada no Rio de Janeiro. Quando morreu em 1967 já deixava a IPB com um progresso considerável em seu trabalho de evangelização, educação cristã, secular, etc. Queremos ainda aqui visitando a galeria da fé e dos sonhos trazer à memória o Rev. Eduardo Carlos Pereira. Esse personagem dispensa comentários pois hoje muitos comentários já foram feitos sobre ele. Isso demonstra que a nossa igreja, tal qual seus líderes, nasce de uma profunda consciência da sua responsabilidade cristã histórica. Responsabilidade essa que em todos as fases da nossa igreja tem sido demonstrada de forma mais eficaz ou não. Entretanto, apesar das dificuldades sempre procuramos ser fiéis em nossos sonhos expresso pelo nosso lema: “Lutar Pela Coroa Real do Salvador“ e assim sermos uma igreja brasileira para o povo brasileiro, ou seja, contextualizada e capaz de entender e buscar responder às necessidades do brasileiros e por ela devemos nos empenhar em nossos dias, em prol dos sonhos que vindos de uma fé viva nos desafia a torná-los concretos. Por fim, Na galeria dos Sonhos encontraríamos nomes de importantes personagens que hoje continuam encarregados de dinamizarem a história da humanidade e dar a ela a possibilidade de realizar o que ora não foi realizado. Esses personagens somos nós.  2. Porque o sonho se apresenta, através do testemunho, como meio de construção e preservação da memória. Um outro aspecto que nos mostra que é necessário sonhar é por que o sonho nos ajuda a construir a nossa própria memória e ao mesmo preservar a memória que já existe a partir do testemunho. A história é construída como dissemos anteriormente, a partir de realizações. Essas realizações nos dão a possibilidade de delimitarmos o tempo e nos situarmos em relação ao passado, presente e o futuro (conf. v.1,10,13,22,32,33,38,40). Sendo Deus o Senhor do tempo podemos dizer que Deus sonha que as suas criaturas vivam de maneira que dêem testemunho da sua ação ao longo da História. Quando lemos o livro de Atos dos Apóstolos observamos conforme descrito no capítulo 1, 6-11, que os discípulos estavam preocupados em saberem quando viria o final dos tempos, representado numa perspectiva escatológica através da restauração do Reino a Israel. Jesus Cristo, porém, estava interessado não exclusivamente na vinda do Reino mas no testemunho. O testemunho a ser dado pela igreja possibilitaria aos homens entenderem e viverem os ideais do Reino e assim Cristo voltaria para o inaugurar em sua plenitude. Disso entendemos que ao mesmo tempo em que o testemunho manteria a memória das coisas ensinadas por Cristo em seu tempo, estimularia os seus discípulos a, a partir desse testemunho, impactarem o tempo e serem agentes de transformação para um novo tempo. A proclamação do evangelho tem por finalidade, dentre outras, trazer à memória os feitos maravilhosos de Cristo realizados durante o seu ministério terreno. Ao mesmo tempo em que essa mensagem é proclamada exige daqueles que a ouvem uma identificação com a mensagem proclamada e por sua vez um compromisso com o objeto da mensagem. Nós, Igreja Presbiteriana Independente do Brasil e parte integrante do Corpo de Cristo devemos levar cada vez mais a sério a nossa tarefa missionária de testemunhar das obras de Cristo e viver práticas coerentes com os seus ensinamentos a fim de que construamos uma memória que mereça lembrança e influencie projetos para as gerações futuras. Para tanto é importante que a igreja, enquanto comunidade que tem a sua origem e propósito na glorificação do próprio Deus, se reconheça como portadora da responsabilidade de anunciar o evento significante na sua vida: a encarnação de Cristo para testificar a respeito da vinda do reino de Deus e a parousia de Cristo que alimenta expectativas da inauguração plena do reino de Deus entre nós. É na expectativa de construção desse reino que a igreja se vê diante de sua responsabilidade assumida ao pregar os ideais de justiça, paz, transformação, e igualdade o que resultado desse processo de identificação entre a sua fé em um Cristo comprometido com humanidade do ser enquanto criatura e objeto do seu amor e a sua missão enquanto grupo. A igreja faz parte de um ideal divino: ideal de comunidade, de Nação santa, sacerdócio real, povo de propriedade exclusiva de Deus. Assim não seria incompreensível dizer que a igreja faz parte do sonho de Deus.  3. Porque o sonho preserva a confiança e a relação com o propósito para o qual fomos vocacionados por Deus. Este é o terceiro aspecto que eu quero compartilhar com esta igreja. Para mim esse é um dos mais importantes aspectos que diz respeito à necessidade de sonhar. Ë interessante notar que no texto de hebreus sobre o qual estamos refletindo (Heb. 11,1-40) o autor do texto começa a listar os atos de fé a partir do testemunho de Abel. Mas se a Bíblia começa a narrativa da criação e nela consta Adão e Eva como sendo os primeiros homens criados por Deus porque se contar a história da fé somente a partir de Abel? Foi movido por tal inquietação que reportamos à história da criação conforme consta em Gen. 2,4-3,24. Permitam-me irmãos fazer aqui uma abstração; se formos bem sucedidos nessa nossa reflexão poderemos entender grandes lições. No texto que fala sobre a criação podemos entender que o homem foi criado por Deus. Deus o criou em estado de pureza e santidade. Santidade esta claramente demonstrada por meio da fé em Deus com quem o homem dialogava quando este passeava no jardim através da brisa do dia. Este texto, escrito em linguagem simbólica, nos possibilita entender que a primeira relação entre o homem e Deus era também uma relação de fé. Relação esta de confiança tal que o próprio Deus lhe dá a possibilidade de escolher entre as decisões que este queria tomar para si. Inclusive dando a conhecer que no jardim havia a árvore que produzia o fruto do conhecimento. Informação essa que Deus poderia reservar somente para si. Porém quando há plena confiança entre amigos os segredos não necessitam ser ocultados. O ser humano ao optar por comer do fruto do conhecimento do bem e do mal, não foi punido por querer ser igual a Deus mas por não ter confiado plenamente no seu criador. Nesse caso, quando não se confia em Deus, até a natureza se torna, ou é vista como adversária pois toda a natureza é posta em desequilíbrio. Entendemos assim pelo o que nos diz o texto que, narrando a vida do ser humano antes de comer do fruto, nos diz que eles estavam nus e não sentiam vergonha nem de Deus e nem um do outro. Entretanto, após comerem do fruto, perceberam que estavam nus e foram se esconder. Acabara a relação de tamanha confiança que possibilitava a eles uma vida de transparência, no texto, simbolizada pela nudez. Na falta de confiança esconder-se parece ser a melhor resposta. Quando não confiamos escondemos os nossos segredos, cozemos folhas para nós porque assim parece que ficamos mais belos e vistosos tais qual a figueira frondosa que escondia a sua infrutibilidade. Como igreja nos escondemos da nossa missão: produzir frutos afim de que os que passam fome possam se alimentarem deles. Assim, quando agimos sem fé desagradamos a Deus e criamos entraves à nossa própria humanidade que deveria se revelar quando Deus nos chama pelo nosso nome a fim de, conosco estabelecer um contato de confiança e partilha como agentes de transformação da realidade em que vivemos. Não somos chamados a nos esconder e esquecer os nossos sonhos ou missão, somos por Deus desafiados a, na condição de Igreja criada e estabelecida pelo o criador, viver com ele uma relação de confiança tão íntima que o mundo em que vivemos possa ser construído e preservado através da nossas atitudes de fé que nos possibilita a caminhar com ele na construção de uma nova realidade e nos estimula a viver uma relação e propósito para o qual fomos vocacionados por Deus. Falar de sonhos é falar de desafios e talvez por isso muitas das vezes alguns preferem não sonhar por medo de ter de encarar a realidade e perceberem que é preciso lutar e isso nem sempre é garantia de vitória mas sim é compromisso de coragem diante do desconhecido. Conclusão Portanto, desde o início dessa reflexão citamos uma das mais importantes frases do Pastor Americano e negro Martim Luther King , que em confronto com a realidade adversa gerada pelo Aparthaid, preferia lutar pela concretização do seu sonho de uma sociedade sem qualquer tipo de discriminação racial, principalmente a institucionalizada, é do nosso objetivo nesta reflexão nos sentirmos desafiados a reconhecermos que devemos lutar e acreditar em nossos sonhos pois, tal qual Martin Luther King, é preciso lutar ainda que tal atitude nos leve a se expor a riscos de morte, como realmente se concretizou em 1968, quando este foi assassinado, mas apesar disso o seu sonho se concretizou ainda que em parte. Todavia o eco da sua voz permanece até hoje falando por meio do seu sonho, tal qual Abel que ainda hoje nos fala por meio da sua fé (Heb. 11,4). Porque andar com Deus é andar de fé em fé. Sendo por isso necessário ao homem e à igreja sonhar pois sonhar é um ato de fé inerente e imprescindível ao ser humano e à igreja em todos os tempos e lugares. Pois sonhos não morrem, se realizam e se transformam em novos sonhos em busca da realização através da fé expressa por meio de um testemunho vivo. Assim, Irmãos e irmãs, que nós enquanto igreja do Senhor continuemos a, dirigidos por Deus através da fé que ele tem colocado em nossos corações, continuemos a lutar em prol da realização dos nossos sonhos. Que Deus nos abençõe. Sem. Israel de Souza Cruz Sermão proferido em Sala de Aula do Seminário Teológico de Fortaleza durante as comemorações do Centenário da IPI em Culto realizado na Aula de Liturgia – Liturgista: Luis Jacques, Junho de 2003.

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